Eu sei, mas perdoa

Era quase madrugada de sexta-feira quando ela finalmente colocou um ponto final em tudo, assim sem nem pensar duas vezes em como ele – um cara tão legal – iria se sentir quando acordasse, olhasse pro lado e não a visse. Simplesmente fechou o zíper da mala, vestiu a jaqueta, deixou um bilhete colado no espelho com um adeus e a explicação mais esfarrapada que já existiu, e deixou a chave debaixo do tapete quando fechou a porta e não olhou para trás - nem uma única vez, sem remorso, sem tristeza. Para ela, foi melhor assim.

Eu sei moço o quanto doeu.

Eu sei que quando você leu aquele bilhete e desligou o celular, depois de ouvir dela que tudo estava acabado e que aquele era o fim, entre as lágrimas não derramadas você gritou - “ótimo, vá para o inferno, eu vou te esquecer, eu juro!”

Mas eu sei também que toda vez que cê abre o guarda roupa o cheiro dela ainda te faz lembrar tudo que ela significou para você, de como você a amava e faria qualquer coisa para vê-la rir novamente daquela sua piada esquecida há tanto tempo. Eu sei que todos os dias você ainda coloca duas xícaras na mesa por causa daquele maldito costume, não compra mais morangos e que você não passa mais naquela rua da casa azul. Que não frequenta mais o mesmo café, porque até a garçonete sem graça te faz lembrar ela.

Eu sei que dói moço, mas sabe, um dia vai passar.

E perdoa ela por tudo, vai. Eu sei que é difícil, mas perdoa. Vai te fazer um bem danado. Prometo que vai doer menos.

Perdoa as brigas, o ciúme obsessivo, as portas batidas, os gritos, as lágrimas, as noites mal dormidas. Sabe, eu não sou a pessoa mais indicada para te dar conselhos principalmente aqui, no banco de uma praça, mas se você se arrisca a me ouvir, um dia essa dor toda vai passar e um garota maravilhosa vai te fazer esquecer de tudo. Do sorriso dela, do modo como ela te acordava com o beijo na nuca, de como ela abraçava você e te fazia esquecer-se dos problemas. Mas para achar essa garota e a cura para essa dor, começa com o perdão - perdoa aquela loira que um dia foi motivo de tanta felicidade, mas que hoje te deixou com essa saudade e punhado de lembranças.

E não se preocupa um dia você vai atravessar aquela rua da casa azul e não vai sentir nada, um dia você vai ser feliz de novo e vai ter coragem novamente para pular de cabeça no abismo de loucura que é o amor – “nem tente dizer que não, que nunca mais vai amar, e não grita comigo!”– vai, cê vai amar de novo, a gente sempre ama novamente.

Mas dessa vez não esquece que o amor, quase sempre, vem acompanhado da dor. Seja ele certo ou não. 

                                                                             Alice Soares